Sonho com Piratas

   "Muito ao norte um navio lutava contra as ondas numa noite tempestuosa. O mar e o céu eram negros, salpicados de raios e de pontas de icebergs ameaçadores.
   A tripulação enfrentava a tempestade, retesando e baixando velas, a capitã do navio se erguia solitária junto ao leme, tentando fazer com que saíssem da tormenta.
   -Capitã Brenda, nós vamos naufragar! Vamos todos morrer nesse mar gelado!- gritou o imediato ao lado da mulher.
Sem responder uma palavra, a jovem desferiu um tapa no rosto do imediato.
   -Nada de pânico!-gritou ela, afinal-Você é meu segundo em comando, não pode se desesperar! Espera... Dean, uma ilha!
   Com a visão da capitã, atenta ao mar, todos começaram a trabalhar para aportarem na baía da pequena ilha que surgiu à frente. Açoitado pelo vento e pelo mar, o navio pirata conseguiu entrar na baía sem resvalar nos rochedos que cercavam a ilha.
Protegidos na baía, os piratas descansaram. Pouco antes do amanhecer a capitã acordou a todos.
   -Vamos, acordem! Vamos procurar água e algumas provisões, mas duvido que haja algo nesse lugar esquecido por deus....
   A tripulação desceu na praia e saíram em busca de uma fonte de água doce, mesmo que da chuva. O dia começava a amanhecer e com as primeiras luzes eles chegaram às pequenas montanhas rochosas adiante da praia, a leste.
   Com a capitã liderando o grupo, os piratas foram atacados por flechas. Surpresos, sem saber de onde exatamente partia o ataque, os homens atiraram a esmo em direção às montanhas ainda ensombreadas.
   A capitã foi atingida próximo à clavícula direita por uma das flechas, curtas mas velozes. A flecha não penetrou fundo ao que a capitã continuou atirando e atacando seus inimigos. Mas o grupo foi emboscado e a capitã feita prisioneira do povo que vivia sob as montanhas.
Levada ao líder dos nativos, este não a reconhece como uma garota a princípio:
   -Vocês são piratas. O que querem na minha ilha?- pergunta o líder dos nativos, um homem branco, tatuado e com longos cabelos em dreads.
meu pirata... Jonathan Davis <3
   -Não parece óbvio? Entramos na baía pra fugir da tempestade dessa noite!
   Ao ouvir a voz feminina sob as roupas masculinas, o homem levanta bruscamente o rosto de Brenda para a luz do archote, fazendo com que ela grite de dor.
   -Quem é você?- pergunta o homem, observando-a com surpresa.
   -Sou Brenda Garret, capitã do Rhonda!-respondeu a garota, altiva apesar da dor.
O homem a soltou com mais delicadeza, a encarando com renovada atenção.
   -Garret? Rhonda, o clipper? Você é parente de Jens Garret?
   -Ele era meu pai, você o conheceu?
   O tom de ambos era mais ameno, a hostilidade se dissipando. O homem começou a se mover ao redor de Brenda de maneira cuidadosa e interessada. Levantou o rosto dela para observar com mais atenção.
   -Você realmente se parece com Anelise... -disse ele, ao fim. - Eu me chamo John Daves. Também sou um pirata. Ou era. Antes de ficar preso nessa ilha... Essa é minha antiga tripulação. Sobrevivemos aqui há alguns anos, à merce do mar.
   Daves abriu os braços e indicou os homens ao seu redor. Marujos parecidos com os de Brenda, semelhantes todos.
   -Como sabe o nome de minha mãe?- a garota perguntou, se encolhendo novamente com a dor da flecha.
   -Ela foi um prêmio disputado por seu pai e pelo meu. Eu era um garoto mas me lembro do rosto dela, bonita como uma rainha.- John avançou sobre Brenda novamente, com um tipo de tesoura rústica.- Me deixe cortar parte dessa flecha, vai facilitar. Logo mais eu vou extraí-la de você. Preciso preparar o antídoto primeiro, ela é envenenada. Pronto, fica melhor assim.
   -Vai me soltar? Não quero pilhar vocês, até porque parece que não possuem nada de valor. Realmente viemos apenas nos proteger da tempestade.
   -Eu acredito em você. Pode retornar ao seu navio, um de meus homens vai acompanhar você, já que os seus foram encurralados de volta ao navio.
   -Eu posso ir sozinha... -Brenda levantou apoiada em um braço, mas a dor a atingiu e cambaleou. Daves segurou Brenda pela cintura.
   -Buddy vai acompanhar você. Além da dor da flecha logo você sentirá os efeitos do veneno. Ele não é mortal, mas vai te dopar.
   Com o auxílio de um dos homens de Daves, um rapaz, Brenda voltava ao seu clipper num passo lento. No meio do caminho, em uma parte mais rochosa da enseada, o marujo ilhéu apoiou a garota, que desmaiava com o veneno. Olhando em volta, com a garota apagada nos braços, o rapaz de Daves se escondeu entre as rochas e começou a beijar Brenda.
   Sem muita habilidade, o jovem ilhéu tentava despir a garota e abrir suas próprias roupas ao mesmo tempo. Brenda estava congelando, apesar do sol morno da manhã.
   Buddy beijava e acariciava o corpo inerte da garota, ansioso por desfrutar dela. Daves vinha procurar um dos ingredientes do antídoto e viu entre as rochas seu homem se deitando com Brenda. Não gostou do que viu e se afastou irritado depois de pegar as ervas faltantes. Mas o rapaz já havia desistido por ver os homens de Brenda, que saíam em diligência para resgatá-la, e estavam se aproximando.
   Explicando a situação, o ilhéu de Daves deixou Brenda aos cuidados de seu próprio pessoal e retornou ao seu capitão.
   Horas mais tarde Daves foi ao navio de Brenda com uma pequena comitiva, sendo recebido pelos marujos do clipper por eles já saberem o motivo da visita.
   Brenda estava em sua cabine, acompanhada do imediato, que era amigo pessoal de seu falecido pai. A garota estava febril.
mais uma do pirata dos meus sonhos
   -Senhor Daves, seu rapaz deixou Brenda conosco e explicou parte da história. Você é o filho de Aaron, então. Naveguei com seu pai e com o pai de Brenda, quando éramos todos jovens....
   Sem responder, Daves aplicou um emplastro no ferimento de Brenda e colocou uma outra mistura sob a língua da garota. Desenrolando um pano branco, Daves expôs ferramentas cirúrgicas.
   -Senhor Daves, fico feliz que esse mal entendido tenha sido resolvido. - o imediato continuou.
   -Silêncio, por favor, eu estou tentando trabalhar aqui.- respondeu Daves enquanto sacava dos intrumentos e iniciava a incisão.
   Enquanto Daves retirava com habilidade a ponta da flecha que ele mesmo cravara em Brenda e suturava o local, seus homens invadiram o navio e o tomaram. Os homens de Brenda vieram avisar o imediato:
   -Imediato Dean! Os ilhéus estão atacando! Eles invadiram o navio! -gritavam alguns homens, entrando na cabine de Brenda.
   -Você nos traiu! Você é mesmo filho de Aaron Daves! - o imediato faiscava de ódio.
   -Bem, bem... ninguém se mexe aqui, ou abro esse pescocinho lindo. - Daves riu, com um bisturi junto ao pescoço de Brenda, ainda incosciente. - Agora eu sou o novo capitão desse navio e essa garotinha me pertence também.
   Daves ainda estava sentado na cama de Brenda, bisturi junto ao pescoço dela, quando seus homens chegaram à cabine e renderam o imediato e os demais. Daves ria, sarcástico. Quando o rapaz que levou Brenda ao navio apareceu, ele ficou sério e o chamou.
   -Esse espólio é seu, Buddy, você já recebeu mesmo.... - Daves falou sem humor.
   -E-eu? - o rapaz gaguejou, sem entender.
   -Você já não virou um homem com essa vadia aqui? - Daves gesticulou na direção de Brenda, desmaiada ainda.
   -Sim, eu... eu...- o garoto ainda gaguejava.
   -Ele o que? - o imediato rugiu!- Quando ele fez isso?!?
   -Quando eu trazia ela pro navio! - o rapaz criou coragem e falou, vermelho.
   -Vocês estavam juntos e se aproveitaram de Brenda enquanto ela estava desmaiada?!? - o imediato ficava ainda mais furioso.
   Daves virou-se do imediato para o rapaz e apertou os olhos, como que tentando ler a confusão que o rapaz deixava transparecer no rosto.
   -Buddy, explique. - Daves falou lentamente, ainda sentado na cama ao lado de Brenda.
   -E-eu, senhor... eu tentei... si-sim... tentei, mas os homens dela apareceram. 
   -O que está acontecendo aqui? - Brenda despertava e tentava se levantar, mas era atordoada pela dor novamente- O que esse rato tentou fazer comigo?
   Daves se virou para amparar Brenda, quase que instintivamente, mas ela rejeitou o apoio, ao ver seus homens sob a mira de suas próprias armas.
   -O que vocês fizeram, seus malditos? - Brenda se exaltava e tentava se afastar de Daves, mas depois de Buddy ter afirmado que não copularam, o humor do outro pirata se amenizou e ele a segurava firme para que ela não se afastasse.
   -Você está tomando meu navio, seu maldito! - a garota ferida forçava para sair do abraço de Daves, o que fez romper mais sangue do ferimento recém fechado.
   -Não se mexa, acabei de costurar seu ombro! - Daves deu uma bronca na garota, o que a enfureceu mais ainda!
   -Não me trate como uma criança! - Brenda sacou um punhal das dobras de tecido de sua cintura e atacou Daves, cortanto seu braço esquerdo no movimento, mas sem seriedade, por ainda estar sob efeito das drogas.
   Mas foi o suficiente para que Daves se afastasse e começasse uma grande confusão entre os homens de ambos dentro da pequena cabine.
   Brenda, acuada como uma cobra, segurava o ombro que sangrava com uma das mãos e com a outra empunhava o punhal ameaçando Daves que agora também estava ferido e em pé entre os homens.
   -Não me tomem por uma garota indefesa! Eu herdei esse navio e o nome Garret e desde a morte de meu pai tenho levado esses homens a novas pilhagens. Foram essas mãos que aportaram meu navio nessa baía! - Brenda vociferava sobre os homens, parando a confusão.
   Daves riu, como se realmente a tratasse como uma criança, uma garotinha mimada e geniosa. Isso a fez atacá-lo novamente. Daves se defendeu e desarmou a garota que ainda tinha os movimentos retardados, então a abraçou e acariciou seu rosto.
   -Você não deveria se esforçar, ou não conseguira se recuperar logo... -Daves falava indulgente.
Os homens de Daves ficaram confusos ao ver a amabilidade dele para com a refém e ficaram menos agressivos com os de Brenda.
   A garota ainda tentava se debater, mas seus olhos estavam semicerrados já, por causa das drogas e da perda de mais sangue. Daves se aproximou e sussurrou no ouvido dela e Brenda tentou abrir novamente os olhos, mas apagou novamente. 
   -Está tudo bem agora, imediato Dean, eu vou cuidar dela, depois resolvemos a questão da invasão. -Daves falou em tom conciliador, sentando-se na cama e acomodando Brenda. -Vocês! Não quero nenhum ferido e nenhuma morte aqui. Se alguém descumprir minha ordem, será um homem morto e seu corpo será abandonado nessa ilha!
   Os homens de Daves assentiram, obedientes e em silêncio, saindo com calma do quarto. O imediato despachou os seus homens e ficaram só os 3  novamente na cabine de Brenda.
   -Eu vou cuidar do ferimento dela, Dean. - Daves falou calmamente, com uma expressão suave no rosto.
   -Estou errado em imaginar que a tomada do navio tem outros motivos além de sair dessa ilha maldita? - o imediato falava, ainda receoso.
   -Está certo. Certíssimo... - o olhar terno de Daves para a garota desmaiada afirmava mais que suas palavras.
   -Ao menos fico mais tranquilo em saber que está interessado em Brenda e que ela não foi maculada por aquele frangote. Nós cuidamos de Brenda desde a morte de seu pai, 5 anos atrás, e ela cresceu tão afiada e feroz quanto qualquer homem, mas nunca foi tocada por nenhum. -Dean se sentou num barril -Eu desejaria que ela nunca o fosse e temeria pela vida de quem a tentasse tomar em condições normais. 
   -Eu noto isso. Notei quando ela estava cativa em minha caverna. Essa menina tem fibra. Gosto da maneira que ela é retesada e rígida.-Daves suturava novamente o ferimento da flecha.


   Deixaram que ela descansasse. Horas depois Brenda despertou faminta e levantou para procurar algo para comer e beber. No corredor lembrou-se do que aconteceu, ao ver os homens estranhos no navio.
   Dean veio e cuidou das necessidades da capitã, dando-lhe as últimas provisões de carne seca e o vinho da reserva dela. Ao ser conduzida para a cozinha, Brenda viu Daves e seus olhos faíscaram de ódio novamente.
   -Você e sua corja de náufragos ainda estão empestiando meu navio! Malditos!- ela vociferou sobre Daves, que tinha o braço enfaixado e com marcas de sangue.
   -Acalme-se, capitã! - Dean tentava afastar os dois, mas Daves se aproximou dela.
   -Garotinha, nós estamos partindo juntos. Eu não vou mais tomar seu navio e meus homens não vão atacar nenhum dos seus. Só queremos partir dessa ilha maldita.- Daves suspirou- Deixe a mim e meus homens no porto mais próximo e eu dou um navio à minha tripulação novamente e não a incomodarei mais.
   Brenda engoliu em seco e encarou Dean, que concordou.
   -Será o melhor pra todos nós. Eles estão trazendo as provisões que possuem, de água e peixe seco, para que possamos todos sair daqui.
   Sem argumentos, Brenda se deixou levar pelo imediato e comeu sua carne e bebeu seu vinho com um nó na garganta, irada, encarando Daves que comia as parcas provisões do navio na mesma mesa, encarando-a também, num sorriso.
um clipper, pra ilustrar
Na manhã seguinte o clipper Rhonda deixou a baía da ilhota, com mar calmo e sol na proa, retornando em direção ao sudeste. A tripulação era de 75 homens, mais que o dobro dos homens de Brenda.
   Navegaram por 2 dias sem ver nada, Brenda e Daves conversando sempre sobre a ponte. No terceiro dia, já com mar mais calmo e quente, tiveram um infeliz encontro com a marinha inglesa. Uma corveta os encontrou logo próximos a uma outra ilhota e já notavam a movimentação para o ataque, após os oficiais terem notado ser um navio pirata.
   -Agora nós teremos que dar uma bela fuga daqui, mademoiselle!- Daves riu, tenso.-Aquilo tem 14 canhões e é rápido e você não tem muita munição. Espero que você saiba usar esse seu clipper!
   -Meu Rhonda não tem esse nome à toa! -Brenda retrucou e agarrou o leme, vociferando ordens aos marujos.- Você vai saber o que é voar pelos mares agora, meu caro John Daves!
   Com habilidade Brenda manobrou o navio, fugindo dos canhões da corveta com velocidade impressionante, singrando o mar como uma flecha, ou uma lança poderosa, na direção oposta à da corveta.
   -Impressionante, capitã. -Daves disse após estarem seguros- sem nenhuma ironia, impressionante. Merece o navio de seu pai.

Depois do encontro com a corveta não houve mais nenhum incidente e em outros 2 dias o Rhonda aportou sob bandeira holandesa em uma pequena cidade da costa francesa, deixando, então, Daves e sua tripulação.
   -Eu vou sentir sua falta, pequena espada. - Daves dizia, com carinho, enquanto jogava uma melena castanha de Brenda atrás da orelha da garota.
   -Espero que consiga seu navio, John Daves. -Brenda disse apenas, ao que Daves reagiu beijando-a.
   -Fique comigo, Brenda! -Daves dizia arfante, entre beijos.-Venha comigo!
   -Esse é meu navio, você está louco! Eu não vou abandonar meus homens e a herança de meu pai!
   -Então eu deixarei meus homens! Me dê tempo para que eu consiga um navio para eles e eu ficarei com você. Eu a amo, Brenda!
   -Não há lugar para dois capitães nesse navio, John.- ela respondeu séria, entrecortada pelos beijos de Daves.
   -Não quero ser seu capitão, quero segui-la, quero estar ao seu lado quando você empunhar sua espada, só isso. Há muito perdi minha dignidade como capitão, quando deixei que o navio de meu pai naufragasse naquele mar que você venceu!
  -John....- Brenda suspirou....
  -Se me permite a intromissão, senhora...- o imediato Dean se aproximou- Talvez deva pensar na proposta de Daves. Ele será um valoroso braço em batalhas e pilhagens.
   -Dean...? -Brenda se surpreendeu.- Está bem, eu darei a você uma semana, John. Arrume o navio e faça seu imediato o capitão e depois terá seis meses para provar que é confiável, ou o farei comida para peixes!
   -Eu aceito, minha capitã!"

Essa história foi baseada num sonho que tive. O sonho segue as linhas até mais ou menos onde Daves vai extrair a flecha do ombro de Brenda. Os nomes foram criados posteriormente, mas o rosto de Daves é o do vocalista do Korn, Jonathan Davis e Brenda era interpretada por mim, em primeira pessoa, no sonho.